Por Luís de Castro, Chief Financial Officer da Noesis
A consultora tecnológica Noesis prevê que até ao final deste ano a sua operação internacional represente 50% do total do volume de negócios, um objetivo que consta do Plano Estratégico da empresa até 2023. O diretor financeiro da multinacional portuguesa diz, em entrevista ao Jornal Económico (JE), que a intenção é que as várias geografias se tornem hubs tecnológicos e tenham equipas maiores para servir as regiões em redor, mas descarta no curto prazo o investimento na Ásia e a abertura de mais filiais.
"Anteciparemos em um ano o objetivo estratégico de ter 40% do negócio internacional. Há alguns dados que ainda não podemos divulgar, por estarmos inseridos num grupo cotado-em bolsa, mas vamos claramente chegar a esse objetivo em 2022", garantiu Luís Castro. No ano passado, o mercado internacional — Brasil, Espanha, Irlanda, Países Baixos e Estados Unidos da América — representou mais de um terço (34,8%) do volume de negócios em 2021, após um crescimento de 16% face a 2020.
Em Espanha, o plano passa por aumentar o número de projetos desenvolvidos para alavancar a sinergia com a Altia; nos Países Baixos, a ideia é fazer um posicionamento estratégico do escritório e permitir que funcione como um centro tecnológico para prestar serviços a clientes em toda a região da Benelux e países nórdicos; a Irlanda será usada para atrair clientes no Reino Unido e os Estados Unidos — que servem toda a América do Norte — serão o principal alvo dos próximos dois a três anos em termos de reforço da estrutura local.
O reforço agora anunciado é fácil de explicar: em 2020 a concorrente da Capgemini foi comprada pelo grupo espanhol Altia por mais de 14 milhões de euros. A transação fez com que a empresa nacional conseguisse investir em todos os mercados simultaneamente. "Antes tínhamos de ser bastante mais criteriosos no desenvolvimento de um determinado mercado", conta o Chief Financial Officer (CFO) da Noesis.
"Fomos adquiridos por um grupo espanhol, mas não houve qualquer tipo de canibalizaçào de negócio. A Altia está muito vocacionada para o mercado espanhol e trabalha bastante com agências europeias. Financeiramente, não foi a soma de dois balanços nem uma soma de duas demonstrações de resultados, mas sim uma multiplicação", afiança o porta-voz da empresa que comercializa infraestruturas cloud, soluções de cibersegurança, automação de processos, analítica de dados, Inteligência Artificial (IA), desenvolvimento aplicacional ou serviços de garantia de qualidade.
Questionado sobre o abrandamento dos recrutamentos e até rescisões em dezenas de tecnológicas, como a Remote, a Netflix e mais recentemente a Robinhood, Luís Castro garante ao JE que não têm dúvidas de que "a recessão está cá", porém mostra-se confiante no impacto positivo da necessidade de digitalização por parte das organizações. "Não digo que passe ao lado, mas acredito que estamos num sector de atividade que, fruto da necessidade de desenvolvimento de processos e automação, sofrerá embora não de uma forma tão vincada como outros. Na prestação de serviços, onde nos inserimos, não acredito que à data de hoje a vaga de despedimentos seja uma realidade. Porquê? Estamos com um défice de mão de obra nas TI e temos de puxar pela cabeça para inventar novas formas de atrair e reter talento", advoga.
Talento esse que requer investimento financeiro. Sobre esse tema, o CFO apenas declara que a empresa está atenta ao que um mercado "cada vez mais polarizado" tem para oferecer, sobretudo as maiores concorrentes. "A contratação de um novo trabalhador reflete o ajustamento de mercado. Transmitimos aos nossos colaboradores que o salário é uma das partes mais importantes, senão a mais, mas tudo o resto também: a evolução profissional, o equilíbrio da vida pessoal e profissional...", sublinha. Segundo Luís Castro, a Remote "acabou por ser um unicórnio vindo da pandemia, com um serviço muito específico ligado à digitalização e ao facto de estarmos espalhados pelo mundo". Talvez por isso a Noesis não acredite num conceito de trabalho 100% remoto.
Em 2021 — ano em que teve uma faturação recorde de 49,5 milhões de euros, o que representa um crescimento de 12,1% em relação ao primeiro ano da pandemia — as áreas com maior crescimento percentual no volinne de negócios foram as soluções de código low code / tecnologia Outsystems (+19,6%), gestão de qualidade e automação (+15,5%). A margem de EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de 6,1%, avançou o CFO, "algo que, historicamente, já não acontecia há alguns anos".
Luís Castro assegura que todas as indústrias estão a prosseguir uma rota de evolução digital, embora, "se estivéssemos a falar há dois anos, claramente havia sectores que se diferenciavam do ponto de vista de investimento em tecnologias da informação (TI), como o retalho e as telecomunicações".
"Consideramos que estamos muito bem apetrechados quando se olha para a transformação digital, porque conseguimos fornecer serviços quase desde a infraestrutura — obviamente com parcerias com instaladores (Fujitsu, por exemplo) — até ao mais procurado no mercado, as soluções low code, Agile, RPA [Robotic Process Automation] e cibersegurança, que — fruto dos ataques — têm sido muito procurada", afirma.
Em termos de estrutura, a Noesis está organizada a seguinte forma: em Portugal tem escritórios em Lisboa, Coimbra, Porto, Proença-a-Nova e na Guarda e Covilhã (as duas últimas são zonas nas quais investiu no final do ano passado) e depois conta diversas entidades legais nos três países além de Portugal e Espanha, para as quais trabalham cerca de 70 pessoas das 965 que a empresa emprega hoje. Os resultados da Noesis em 2021 contribuíram também para as contas anuais do grupo espanhol Altia, que está cotada no índice BME Growth da bolsa de Madrid e viu os lucros aumentarem de 6,2 milhões de euros para 8,7 milhões de euros no espaço de um ano e o EBITDA crescer 16,8% em termos homólogos. O volume de negócios fixou-se nos 125,9 milhões de euros em 2021
Publicado em Jornal Económico