Por Ricardo Rocha, Associate Marketing Director na Noesis
Perante emigrantes que não vêm a Portugal, idosos que não podem sair dos lares ou famílias que não se reúnem, consultoras tecnológicas dão ideias.
A celebração do Natal será diferente para muitas famílias portuguesas. É um facto do qual nos começámos a aperceber em outubro, quando o Presidente da República advertia para a “gravidade” do aumento de contágios por coronavírus e para a hipótese de se ter de “repensar o Natal”. Apesar do alívio das restrições de circulação entre concelhos nos dias 23, 24, 25 e 26 de dezembro e de o recolher obrigatório nos municípios de risco passar para as 2 horas da madrugada, há agregados familiares que só estarão ligados pela internet, tal como na Páscoa.
Inês Cipriano de Quina vive no Canadá e, todos os anos, vem à terra-natal em dezembro para passar a Consoada e o réveillon em família – todos menos 2020. O receio de trazer consigo o vírus e contagiar os pais foi mais forte do que a saudade, pelo que será a tecnologia a amenizá-la. “Não vou porque não quero arriscar estar exposta à Covid-19 nem quero pôr a minha família em risco visto que a situação em Portugal não está muito boa. É um Natal diferente, mas não é por estar longe que deixo de estar presente”, conta ao Jornal Económico (JE).
Entre WhatsApp, Zoom, Google Hangouts, Microsoft Teams ou Facetime, há ideias que podem ser exploradas, segundo David Faustino, managing director da Nexllence (Glintt). “Uma será colocar uma smart TV no topo de uma mesa de refeição, conseguindo assim uma experiência mais imersiva de estar «à mesa» com familiares e amigos. Há também um conjunto de soluções de entretenimento que permitirão ter a família e amigos a interagir “quase” como se estivessem juntos: além dos jogos de consolas, valerá a pena procurar sites com jogos de tabuleiro que foram portados para o mundo digital (como o pt.boardgamearena.com), que permitirão horas de diversão entre pessoas em diferentes locais do país e do mundo”, aconselha o gestor.
David Faustino lembra que existe uma percentagem significativa da população que tem acesso a dispositivos com capacidade de áudio e vídeo (PC, tablet, smartphones, televisão inteligente. Aliás, ainda esta semana a Anacom informou que há mais de quatro milhões de subscritores de serviços de televisão por subscrição em Portugal, o que representa mais de 90% das famílias portuguesas e pressupõe, portanto, que tenham também televisores modernos e outros serviços de telecomunicações avançados. “Acredito que parte das famílias se reunirão através destes meios, melhorando a experiência de proximidade humana, permitindo a perceção da linguagem não verbal, e reduzindo a «distância emocional» entre pessoas. Estes meios estão cada vez mais ao nosso dispor, mas os nossos hábitos pessoais enraizados de fazer chamadas telefónicas ainda subsistem, pelo que acredito que o Natal poderá ser uma excelente oportunidade para tornar a videochamada um hábito também em ambiente pessoal”, afirma. Porém, sem infraestruturas nem recursos para proteger os idosos do vírus como é necessário, os lares serão os maiores penalizados desta época festiva – que este ano terão pouco de festa.
Ao jornal “Público”, tanto o presidente da União das Misericórdias Portuguesas como o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade alertaram que não há condições para os idosos passarem o Natal com as respetivas famílias porque depois não os conseguem colocar em isolamento profilático, em segurança e com o devido distanciamento, durante 14 dias.
O diretor associado de Marketing e Comunicação da consultora tecnológica Noesis propõe “aquecer o coração” de alguém que está longe nesta época com a gravação de um vídeo na hora de abrir os presentes ou uma mensagem de Natal com o agregado familiar que se tem em casa e enviar a todos aqueles com quem não irão partilhar o bolo-rei. “Muito se discutiu nos últimos anos sobre o efeito da tecnologia, em especial nas novas gerações, na socialização e no relacionamento interpessoal, entre tantas outras questões a que é necessário estar atento. Entretanto, o mundo mudou e, paradoxalmente, numa época em que os contactos sociais estão restringidos e devem ser moderados, a tecnologia e o contacto virtual podem ser a solução para manter os laços e as ligações familiares e tentar estabelecer alguma «normalidade» neste Natal”, diz Ricardo Rocha ao JE.
Na sua opinião, a tecnologia irá não só minimizar o impacto negativo deste Natal, mas também “combater a solidão daqueles que, por um motivo ou outro, o passarão sozinhos”. “A tecnologia, hoje em dia, tem a grande vantagem de nos conseguir manter conectados e de nos colocar, virtualmente, em qualquer lugar. O advento das soluções de mobilidade, softwares de teleconferência, smartphones ou redes sociais foi uma das grandes revoluções a que assistimos nos últimos anos”, refere o executivo da Noesis.
O primeiro-ministro apela a que se evitem confraternizações. “Cada familiar saberá organizar- -se, mas é preciso que todos compreendam que o Natal não assegura imunidade a ninguém, não nos protege, e, por isso, é fundamental que as celebrações existam, mas com todo o cuidado para evitar que partilhemos o vírus, que não pode ser a nossa prenda”, disse António Costa no último fim de semana. As medidas anunciadas pelo Governo serão reavaliadas a 18 de dezembro.
Artigo publicado em Jornal Económico